Ficha de Leitura 2
Referência Bibliográfica: GUERRA, Isabel Carvalho (2002). Fundamentos e processos de uma sociologia da acção: o planeamento em Ciências Sociais. 2.ª ed. Cascais: Principia.
A construção de projectos de intervenção, p.125-162
Palavras-chave: Projecto; Planeamento; Análise de necessidades; Diagnóstico, Pré-diagnóstico; Prioridades de intervenção; Análise prospectiva
Breve resumo do texto: O presente texto aborda as diferentes etapas de construção de um projecto de intervenção, sendo as mesmas: a identificação dos problemas e diagnóstico, a realização de uma análise de necessidades, a partir do diagnóstico; os objectivos e as funções do pré-diagnóstico e do diagnóstico, a definição de prioridades de intervenção; e as metodologias que devem ser utilizadas na fase de diagnóstico.
Desenvolvimento: Como a autora refere “a metodologia participativa do projecto não é apenas um processo intelectual, mas exige uma gestão eficaz verdadeiramente complexa” (p.125)
Um projecto exige uma participação activa por parte do investigador. Surge de um desejo e de uma intenção, tendo como finalidade dar resposta a uma necessidade.
A autora organiza as quatro principais fases de construção de um projecto: a emergência de uma vontade colectiva de mudança – compreender o que é preciso mudar; análise da situação e a realização do diagnóstico – onde se baseia todo o percurso do projecto; desenho do plano de acção – planear estrategicamente a acção; e concretização, ao acompanhamento e à avaliação do projecto – a ultima fase do projecto: desenvolver o projecto, avalia-lo e divulgar os resultados.
Em termos profissionais o projecto é algo mais elaborado, e a metodologia de projecto pode ser utilizada em diversas situações, consoante a forma racional de organização e uma sequência de tarefas, tendo em atenção a concretização dos objectivos.
O planeamento do projecto funciona como “a imagem antecipadora e finalizante resultante de uma sequência organizada de operações susceptíveis de conduzir a um novo estádio da realidade-objecto da acção” (Jean-Marie Barbier, 1991, citado em Guerra, 2002).
Uma das etapas do planeamento é a identificação dos problemas e diagnostico em que para se enquadrar o diagnóstico é preciso ter-se um modelo aberto, mas sedimentado de referências teóricas e conhecimento das necessidades em acção social. “O que está em causa, quando falamos de diagnóstico, é o conhecimento científico dos fenómenos sociais e a capacidade de definir intervenções que atinjam as causas dos fenómenos e não as suas manifestações aparentes” (p.129)
O diagnóstico tem como base informações exógenas ao local e informações endógenas de carácter quantitativo e qualitativo, e para se ter um bom diagnóstico, segundo Guerra (2002), é necessário ter-se a garantia “da adequabilidade das respostas às necessidades locais e é fundamental para garantir a eficácia de qualquer projecto de intervenção” (p. 131).
O diagnóstico está relacionado com o conhecimento alargado do meio social, particularmente das questões de intervenção, tem uma dimensão mais alargada do que a identificação do problema. Pressupõe uma relação de interacção entre as variáveis em presença e a identificação tanto de vulnerabilidades como de potencialidades e recursos, é considerado “ um instrumento de pesquisa e um instrumento de participação de todos os que detêm elementos de conhecimento sobre a realidade.” (p.132)
O diagnóstico ou análise de necessidades é sempre definido como a identificação dos níveis de não-correspondência entra o que está e o que “deveria estar”. Um diagnostico pretende responder à questão: por onde passa a satisfação das necessidades sociais num determinado sistema de acção?
O diagnóstico é algo inacabado por ser definido como o aprofundamento das dinâmicas de mudança, das potencialidades e dos obstáculos numa determinada situação, por ser um processo permanente e sempre participado. Pode-se fazer essa análise de necessidades através da análise SWOT, que tem como objectivo identificar os pontos fortes e pontos fracos (nível interno) e oportunidades e ameaças (nível externo).
O diagnóstico é composto por três fases: fase do pré-diagnóstico – pretende-se identificar questões-chave relacionadas com o diagnóstico, definir áreas de conhecimentos, identificar a informação existente e determinar que tipo de informação pode esclarecer melhor o conhecimento da situação. As metodologias mais usadas nesta fase é a análise documental ou a entrevista; fase de diagnóstico – a elaboração do diagnóstico assenta na compreensão do carácter sistémico da realidade, envolve primeiramente uma relação de causalidade, e depois o conhecimento acerca das dinâmicas sociais é mais global e integrado; e a fase de hierarquização dos problemas e de desenhos de soluções.
Num projecto de intervenção é importante eleger as prioridades de intervenção, uma escolha apoiada em dois critérios; dimensão e natureza do problema e caracter reprodutivo do fenómeno social.
Os principais objectivos da fase de selecção de prioridades de intervenção são: Estabelecimento das prioridades face às necessidades ou aos problemas identificados; Estabelecimento de estratégias para satisfazer essas necessidades; Estabelecer os critérios; Considerar soluções alternativas; Avaliar alternativas; Seleccionar uma ou mais soluções; e por fim, preparar relatórios e documentos para a divulgação do diagnóstico e das principais estratégias.
A análise prospectiva desenvolvida por Michel Godet visa determinar “futuros prováveis” e “futuros possíveis”, isto é uma relação entre o passado, presente e futuro. O objectivo é ser um instrumento de apoio ao planeamento e à tomada de decisão e visa responder às necessidades, a meio e curto prazo. Em 1974, Michel Godet e Jean-Claude desenvolveram uma metodologia sustentada numa recolha quantitativa e qualificativa, de modo a identificar as variáveis-chave das dinâmicas sociais. Esta metodologia agrega três fases: análise estrutural, estratégia de actores e construção de cenários.
Este texto é bastante útil para perceber a dimensão e a importância que tanto a fase do pré-diagnóstico como a de diagnostico num projecto de intervenção.
Pessoalmente foi extremamente importante ler este texto para ter consciência das diferentes fases que vou ter passar para se desenvolver o projecto que estou a realizar na Instituição.